O que é Filosofia?
Em se tratando de temas filosóficos o começo é, quase sempre, o mais difícil. Na filosofia ocidental, o começo é sempre na Grécia.
Qual flor que desabrocha depois de plantada e regada, a filosofia nasceu nos jardins gregos do século VI a.C. E seu nascimento foi resultado do espanto. Perplexo diante daquilo que não sabia explicar e descontente com as prédicas religiosas ou mitológicas, o homem grego descobriu-se filósofo quando começou a questionar a origem (arché) e a finalidade das coisas. Fundamentalmente, a questão da origem e do sentido das coisas são, de modo particular, o objetivo da filosofia em seu início.
A palavra grega phylosofia significa, originalmente, amizade pela sabedoria. O filósofo, por buscar entender a origem, o sentido e a causa das coisas acaba por tornar-se amigo da sabedoria. Isso porque a sabedoria consistia, essencialmente, em saber e fazer, em teoria e prática. Sábio era aquele que tinha uma vida fundada na vita theorica e na vita prática. Aristóteles chega a afirmar que a filosofia é um estilo de vida theorética. Esse mesmo filósofo, em sua metafísica, diz que todos os homens tendem por natureza ao saber. Isso significa que, do ponto de vista existencial, todas as pessoas podem ser filósofas. Entretanto, a filosofia não agrada a todas as pessoas. Obviamente porque, como todo saber, há exigências e critérios para o exercício filosófico. Apesar de definir filosofia a partir da etimologia e em nível expositivo, cumpre entender que a filosofia, como um tipo de conhecimento, se distingue das outras ciências por, pelo menos, três características, a saber: a) a filosofia é um saber que se preocupa não com a finalidade das coisas, mas sobretudo, com a origem e a essência, a causa primeira das coisas; b) é um saber universal, que não se detém a um objeto específico nem a um problema empírico; c) é um tipo de sabedoria que se distingue pela capacidade crítica. Há, inclusive, alguns pensadores e pensadoras (como, por exemplo a Marilena Chaui) que distinguem a filosofia pela sua capacidade de despertar, nos indivíduos, a consciência crítica.
Dadas essas três características, cumpre tomar uma definição de filosofia que, de alguma maneira, contribui para nossa conceituação. Epicuro, filósofo helenista que viveu por volta do ano 270 a.C na periferia da Grécia, define filosofia como uma atividade que, por meio de discursos e raciocínios, nos proporciona uma vida feliz (Fragmento 218 da ed. Userner, transmitido por Sexto Empírico (Adv. Math., XI, 169), traduzido por CONCHE, Michel em Epicuro, Lettres et maximes, PUF, 1987, Pág. 41). Essa definição, embora pareça simples, diz muito sobre a filosofia. Antes de mais nada, ela é uma atividade, uma energia – o que implica uma certa movimentação no ato de filosofar. Depois, a filosofia é feita por meio de discursos e raciocínios, não por explicações mitológicas ou religiosas. A capacidade de discussão é, no meio filosófico, naturalmente dialética.
Outro elemento importante: na filosofia importa a capacidade de raciocínio, de articular pensamentos e palavras para, com objetividade, expor ideias e entender, questionar ou explicar a realidade. Aqui temos a dimensão especulativa e explicativa da filosofia. Por fim, a filosofia, como atividade, tende a nos proporcionar uma vida feliz. Ou melhor, uma vida boa. Trata-se de pensar bem para viver melhor e, num trocadilho, viver bem para pensar melhor. A vida feliz, por outro lado, é um problema antigo na filosofia. Ela é difícil de ser entendida, definida e concebida no plano prático.
No entanto, nas veredas da filosofia, a felicidade era uma face oculta da sabedoria. E esta provinha de uma relação íntima entre saber e verdade. Se por um lado a filosofia tende a proporcionar ao homem uma vida feliz, ou uma forma de sabedoria, por outro ela mantém uma estrita relação com a verdade das coisas. Mais importante que um discurso que nos faça feliz é aquele que se nos apresenta como verdadeiro.
Assim sendo, se a finalidade do filosofar é a felicidade, obtida por meio de uma atividade proveniente dos discursos e dos raciocínios, a verdade é a norma da filosofia. Dessa forma, na filosofia pensamos não o que nos torna felizes mais o que nos parece verdadeiro, ou próximo da verdade. Isso significa que, se o filósofo puder optar entre uma verdade e uma felicidade, ele só será filósofo, ou só será digno de sê-lo, se optar pela verdade. Mais vale uma verdadeira tristeza do que uma falsa alegria (Cf. SPOVILLE-André Conte, A Felicidade, desesperadamente, pág 14). É verdade que, sobre esse último ponto elencado por Conte-Spoville nem todos estamos de acordo.
Dadas as devidas conceituações, convém passarmos ao próximo assunto. Vamos falar da divisão, ou melhor, das partes com as quais a filosofia se relaciona. Dissemos que a filosofia é um saber que busca entender a essência das coisas, sua causa primeira e que visa o universal, não o particular.
Agora, queremos apresentar a primeira parte da filosofia. Trata-se da ontologia, aquela que se preocupa com a essência do ser. Aqui a ideia é procurar entender a razão de ser dos objetos presentes na realidade; por outro lado, a gnosiologia (ou teoria do conhecimento), a segunda parte da filosofia, se ocupa com o modo como concebemos o ser das coisas.
A gnosiologia procura entender as características descritivas dos objetos da realidade; quanto à terceira parte que embeleza a moldura da filosofia, a estética, ela se ocupa do modo como o ser se apresenta, da maneira como os objetos se manifestam na realidade.
À estética, segue-se a quarta parte que abrange os discursos filosóficos: a ética. Ela se incube em saber o modo como o ser se comporta na realidade. Trata-se de entender a maneira como os objetos adquirem juízos de valor, de bom e ruim, certo ou errado etc.
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sivalsoares.com 03 de junho de 2011
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