A epifania, palavra de origem grega, significa manifestação, revelação. Liturgicamente é a festa da manifestação de Deus à humanidade. Onde? Numa criança, ser frágil, alojado em Belém – a casa do pão, como indica o nome hebraico. Por que? Porque Deus quis deixar-se conhecer, desvelar seu rosto sensível e gratuito aos estrangeiros, aos magos do oriente. Para que? Talvez, cioso por salvar a humanidade. Salvar das amarguras, da tristeza, da falta de sentido para a vida, das injustiças sociais, culturais, políticas e econômicas. Deus criança manifesta o poder invertido de Deus. Não o poder do Rei-Terra-Arma, mas o poder da criança-amada-pobre. E acredite: ela salva! Como quem salva os que amam: na simplicidade da vida.
No contexto da reconstrução da vida, após o exílio babilônico, por volta de 732aC, o terceiro Isaias, profeta do sonho universal, evoca um pedido à Jerusalém: ascende tua luz (cf. Is 60,1) porque a Luz chegou. Veio a esperança. Com a liberdade, germina a coragem de reconstruir, de ressurgir, de recomeçar. Qual semente brotando da terra, a Luz vem ainda hoje, nas jerusaléns exiladas dos subúrbios empobrecidos, dos leitos desordenados dos hospitais, das esquinas onde se sequestram crianças para o tráfico humano ou que se prostituem virgens/moças para o deleite de animais humanos.
O convite é para erguer os olhos (cf. Is 60,4) junto com a cabeça. Ver além do nariz e enxergar na claridade dos que buscam a verdade, enveredam pelos caminhos éticos e traçam planos e ações construtoras. Com as visões, devem-se abrir os corações para contemplar e construir o Amor que desponta na história. Cada criança adorada é um amor renovado. Os magos e magas, os amantes de tantas crianças que, qual Jesus na casa do pão, carentes de pão, desembocam nos caminhos da vida a procura da estrela. Procuram sinais que manifestam a esperança vindoura. E vem. Está entre nós. É Deus conosco. Emanuel. Ele está na Belém da cozinha dos que partilham, ou dos que trabalham social e politicamente por um mundo melhor. Para estes brilham uma luz e esta iluminação arrebanha pessoas. Todos vêm saudar a liberdade que nasce com a epifania. Liberdade de Deus ser Deus na fragilidade duma criança que clama carinho e amor.
É este o mistério que Deus permite ao ser humano conhecer (cf. Ef ,5): todos se associam ao Deus-menino. Participam de sua divindade – pagãos, gregos, gentios, judeus, orientais, europeus, africanos e americanos. Trata-se de um Deus eclético, cuja exigência não se finca em dogmas, mas em gestos de fé – sobretudo – e no amor – essencialmente. Os crentes e amantes formam um só corpo (cf. Ef 3,6) cuja cabeça é Cristo. A cabeça que é criança. Poder invertido. Criança que ensina a brincar e a sorrir, a cirandear na vida como se dançava ciranda na infância. Um Deus-menino cheio de ternura e encanto, como convém à divindade libertadora.
Deus que atrai presentes e adoração (cf. Mt 2,11-12) somente pela gratuidade. Mas conquista também a ira velada dos detentores de tronos ameaçados (cf. Mt 2, 7). O ouro – moeda preciosa; o incenso – com seu cheiro acalentador; e a mirra – perfumada de brilho... tudo isso, Maria deve ter oferecido como moeda de troca pela comida e pela hospedagem que recebeu na terra estrangeira em que se encontrava. Isso mesmo, terra de Jesus era a Galileia. José estava com Maria, por ali, em virtude do senso que obrigava todos a se registrarem. Mas, nascido o menino, na casa do pão, em Belém, os magos levaram-lhe presentes. A humanidade ganhou presente maior: Deus-menino. Revelador das desvelações humanas; causa de contradição; Deus dos menos endeusados, dos desprovidos. Epifania do amor infantil no universo que acolhe o salvador na Belém de David. Na região dos sem-mapas. Do nosso Deus. Do salvador.
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sivalsoares.com janeiro 2015
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